Documentário sobre a Vaza Jato
“Amigo Secreto”, documentário sucesso de crítica dirigido por Maria Augusta Ramos, terá exibição única aberta ao público. Ela começa a partir das 19h desta quinta-feira (27/10), e vai até às 19h de sexta, 28.
A exibição será no canal da Vitrine Filmes, no YouTube.
O documentário foca na maior farsa jurídica da história recente do Brasil, demonstrada em série de reportagens do The Intercept Brasil, em 2019. Naquela ocasião, vazamentos de conversas em grupos de Telegram mostraram uma série de ilegalidades na operação Lava Jato.
Produzido por Nofoco Filmes, Docmakers e Gebrueder Beetz Filmproduktion e coproduzido e distribuído pela Vitrine Filmes, trata-se de uma produção brasileira, alemã e holandesa.
Amigo Secreto foi segundo documentário mais assistido nas salas de cinema do Brasil em 2022. O documentário ficou em cartaz por 10 semanas, totalizando 15.254 espectadores. Abaixo, o trailer oficial:
O que foi a Vaza Jato? Relembre
No ano de 2014, começou a repercutir uma grande operação, ainda sob o governo Dilma Rousseff. Tratava-se da Lava Jato, que envolvia o Ministério Público Federal e um grupo de procuradores sediados no Paraná.
Na esteira dos protestos de 2013 e sob discurso anti-corrupção, a Lava Jato caiu logo nas graças da opinião pública e imprensa. Sobretudo o juiz Sérgio Moro, que viria a ser ministro da justiça de Jair Bolsonaro, e o procurador Deltan Dallagnol, a operação foi vista como uma espécie de salvação do país contra a corrupção.
E o alvo era bem claro, no caso, o governo PT e o próprio partido, em especial o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ainda que houvesse vozes dissonantes, como a do jornalista Reinaldo Azevedo, grandes veículos de imprensa e jornalistas ajudaram a moldar a imagem messiânica e salvacionista da operação Lava Jato.
Seu ápice se deu em abril de 2018, com a prisão de Lula. Antes disso, o episódio do vazamento de um diálogo (grampeado) entre o ex-presidente e a então mandatária Dilma foi divulgado em 2016, lido ao vivo no Jornal Nacional.
Tudo parecia que ia bem e sem fortes resistências para a Lava Jato e a “República de Curitiba”, até junho de 2019. Ali, veio um dos grandes plot twists da nossa história recente.
Vaza Jato mostra crimes da Lava Jato
A partir de junho de 2019, o The Intercept Brasil divulgou uma série de reportagens que invertia a imagem da Lava Jato. Se antes era quase consenso de a operação ser formada por heróis anti-corrupção, nas matérias via-se desde preconceitos mais vulgares até flagrantes ilegalidades.
Vazamentos de mensagens trocadas em grupos de Telegram vieram à tona pela Vaza Jato. Além de episódios grotescos, como uma procuradora que ironizou a morte do neto de Lula, ficou provado que o juiz Sérgio Moro e os procuradores tinham intenções políticas muito marcadas.
No caso, ficou clara a intenção da Lava Jato em prejudicar o PT e Lula, passando por cima do devido processo legal. Assim, a Vaza Jato mostrou que a operação, basicamente, tinha sentenças, acusações e denúncias combinadas entre os responsáveis.
À época, o jornalista Glenn Greenwald chegou a falar em audiência no Congresso Nacional. Leandro Demori, também à época no The Intercept, também atuou para mostrar as entranhas da Lava Jato.
O material vazado foi compartilhado com outras redações. Folha de S. Paulo, UOL e El Pais, por exemplo, publicaram reportagens com material da Vaza Jato.
Muito em virtude do conteúdo vazado, a condenação de Lula foi anulada em 2019.
O material da Vaza Jato foi publicado em livro.
O documentário
Amigo Secreto adota uma abordagem direta do processo registrado em cena. Nele, a diretora adota três instâncias principais para fazer a linha narrativa do documentário.
A primeira é justamente o trabalho de jornalistas do The Intercept Brasil e do El País Brasil na apuração das informações da Vaza Jato. Juntamente com isso, são mostradas imagens de arquivo, como o depoimento de Lula diante do ex-juiz Sergio Moro.
A essas imagens, o documentário costura imagens contemporâneas de protestos e movimentações em torno de Jair Bolsonaro.
De certa maneira, Amigo Secreto provoca a pensar na relação entre o bolsonarismo e o ativismo jurídico da Lava Jato.