A deputada federal reeleita Carla Zambelli (PL-SP), uma das principais apoiadoras do presidente Jair Bolsonaro (PL), foi filmada apontando uma arma para um homem negro, no bairro nobre dos Jardins, em São Paulo, neste sábado (29). No vídeo, ela atravessa a rua e entra em um bar com uma pistola empunhada. A deputada afirma ter sido hostilizada por “militantes de Lula”. As circunstâncias do conflito não são claras.
Em registros do ocorrido que estão circulando nas redes sociais, é possível ver uma discussão entre Zambelli e o jornalista Luan Araújo, um homem negro, na esquina da rua Joaquim Eugênio de Lima com a alameda Lorena. O local é próximo de onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) realizava um ato de campanha neste sábado.
Nos vídeos é possível ver que a deputada, de camiseta verde, tenta partir para cima Luan depois que ele faz xingamentos para ela. Em meio à discussão, Zambelli se desequilibra e cai. Ela levanta rapidamente e corre atrás do jornalista, com alguns de seus apoiadores, um deles, branco, aparece com uma arma na mão. É possível identificar o som do disparo de uma arma de fogo, mas não há uma imagem do momento do tiro.
Araújo segue pela Alameda Lorena até entrar num bar na mesma via. Na sequência, é possível ver a deputada chegando no local, com uma arma na mão.
Luan afirmou ao UOL que a confusão começou após encontrar Carla Zambelli em um bar e a mandar “tomar no cu”. Ele relata que as pessoas que acompanhavam a deputada começaram a filmar a discussão até que o homem disse “te amo, espanhola”, uma referência a uma provocação do senador Omar Aziz (PSD-AM) na CPI da Covid. Foi neste momento que Zambelli se desequilibra, quase cai e corre atrás da vítima com a arma.
Carla Zambelli relatou sua versão do caso.
Zambelli divulgou um vídeo em suas redes sociais, contando sua versão. Ela alega ter sido vítima de xingamentos e diz ter recebido cuspes de um grupo de homens e de “uma mulher de camiseta vermelha”.
“Estou fazendo um boletim de ocorrência. Eu fui agredida. […] Me empurraram no chão. Um homem negro. Eles usaram um negro para vir em cima de mim”, diz ela no vídeo.
“Quando ele me empurrou eu caí, falei que ia chamar a polícia. Ele se evadiu, eu saquei arma e fui correndo atrás dele, pedindo para ele parar porque eu ia chamar a polícia e dar flagrante. Ele pediu desculpa, falei que ele podia ir e aí ele começou a fazer de novo.”, contou a deputada. Veja o vídeo:
Ver essa foto no Instagram
Nota da assessoria da deputada
Em nota, a assessoria da deputada ressaltou que Carla Zambelli foi vítima de agressão. Leia na íntegra:
Neste sábado (29), por volta das 16H45, a deputada federal Carla Zambelli (PL) foi vítima de uma agressão no bairro Jardins, em São Paulo.
O episódio aconteceu quando a deputada estava de saída de um restaurante localizado entre a Avenida Lorena com a Rua Joaquim Eugênio Lima.
“Não foi um simples pressentimento. O restaurante possui várias janelas e enquanto eu ainda estava no local com meu filho de 14 anos, observei uma movimentação estranha pelas imediações.”
Ao sair do restaurante, vários homens e uma mulher começaram a cuspir na deputada, que foi chamada de filha da puta e prostituta espanhola. Testemunhas locais informaram que o grupo gritava o nome de Lula.
Após cair no chão. Numa fração de segundos, a deputada examinou o fluxo de pessoas, sacou uma arma da cintura e acelerou em direção ao agressor que entrou num bar. Não houve disparos, mas Carla ficou com hematomas nas pernas após o ataque. A deputada federal possui registro de arma de fogo para defesa pessoal.
Crime eleitoral
Conforme a resolução de 2021 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é proibido o porte de armas de civis e policiais que não estejam em serviço um dia antes da eleição a “100 m (cem metros) da seção eleitoral e não poderá aproximar-se do lugar da votação ou nele adentrar sem ordem judicial, ou do presidente da mesa receptora, nas 48 (quarenta e oito) horas que antecedem o pleito e nas 24 (vinte e quatro) horas que o sucedem, exceto nos estabelecimentos penais e nas unidades de internação de adolescentes, respeitado o sigilo do voto”.
No entanto, por Carla Zambelli, ser deputada, pode ter porte de arma. Segundo, a Secretaria da Segurança, o porte de arma de Zambelli é particular e foi emitido pela Polícia Federal. Em um vídeo de 2020, ela comemorou nas redes sociais ter conseguido porte de uma arma calibre 38. Ela tem 3 pistolas, um revólver com registro válido no Sistema Nacional de Armas (Sinarm).
Para Michel Saliba, integrante da Associação Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), “é vedado a qualquer cidadão portar armas na véspera da eleição, inclusive aos que têm direito de posse e porte. O objetivo da resolução do TSE é garantir a integridade da eleição e por isso a atitude de Carla Zambelli pode ser considerada uma infração eleitoral”.