O escritor britânico Salman Rushdie, autor do best seller “Os versos satânicos”, sofreu um atentado nesta sexta-feira, 12/08. Jurado de morte do Irã na década de 1980, Rushdie foi atacado quando estava prestes a dar uma palestra. Ela aconteceria em Chautauqua, no estado de Nova York.
A polícia local informou que Rushdie foi esfaqueado no pescoço, rosto e braços. O autor teria sido um homem que, segundo testemunhas, correu para em direção ao palco. Chegando lá, atacou o escritor no momento em que ele era apresentado ao público.
De acordo com a agência de notícias Associated Press, Rushdie, de 75 anos, levou entre dez e 15 facadas. Ele foi levado em helicóptero a um hospital local. Informações atualizadas, repassadas pelo seu agente Andrew Wylie, dão conta que Salman Rushdie passa por cirurgia. Segundo informações da manhã deste sábado (13/08), o romancista deverá perder um dos olhos.
O autor do ataque foi detido por policiais que estavam no evento. No momento, segundo a imprensa, o criminoso está sob custódia.
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Além de Rushdie, um outro participante da palestra sofreu ferimentos leves no pescoço. Ele entrevistaria o autor de Versos Satânicos no evento, mas também foi vitimado pelo ataque. Um repórter da Associated Press também testemunhou o atentado. Segundo a agência, o profissional viu o homem invadir o palco da Chautauqua Institution. Dali, o viu começar a esfaquear Rushdie. O autor caiu no chão enquanto o homem foi contido.
Um vídeo postado em redes sociais mostra pessoas correndo para socorrer Rushdie no palco do evento imediatamente após a agressão.
Um assistente da palestra relatou à Associated Press que o ataque, no todo, durou cerca de 20 segundos. “Um cara subiu no palco e começou a golpear Rushdie. No início ficamos nos perguntando: ‘o que está acontecendo’, mas ficou bastante claro em alguns segundos que ele estava sendo agredido”, contou Charles Savenor.
A governadora de Nova York, Kathy Hochul, deu uma declaração oficial sobre o caso. “Nossos pensamentos estão com Salman e com seus entes queridos após esse acontecimento terrível“, disse.
Vida e obra de Salman Rushdie
É bastante famoso o fato de que Salman Rushdie foi jurado de morte por conta de sua obra. Para entendermos o porquê disso, é preciso visitarmos sua trajetória de vida.
Ahmed Salman Rushdie nasceu em Bombaim, em 19 de Junho de 1947, dois meses antes da independência de seu país, a Índia. Cabe lembrarmos que a Índia fora colônia britânica desde o século 19.
Salman Rushdie é de origem muçulmana indiana. Cresceu em Mumbai, antiga Bombaim, e estudou na Inglaterra. Ali, formou-se no King’s College, Universidade de Cambridge. Ali formou-se como intelectual e escritor, enquanto os antigos impérios coloniais europeus na África e Ásia passavam por processos de independência.
Na sua obra, Rushdie desenvolveu um estilo narrativo bem peculiar. Ele mescla o mito e a fantasia com a vida real. Segundo leitores e especialistas, Rushdie foi bastante influenciado pelo realismo mágico, estilo bastante notório sobretudo por escritores da América Latina.
O autor foi premiado pelo livro “Filhos da Meia Noite” (1981), quando venceu o Prêmio Booker. Mas a obra que lhe traria notoriedade mundial e, infelizmente, constantes ameaças de morte, foi “Versos Satânicos” (1989).
Jurado de morte desde nos anos 1980
“Versos Satânicos” tem um enredo que se desenvolve na Índia e na Inglaterra. O título da obra refere-se a alguns versos do Corão, conhecidos por versículos Gharanigh. A história é sobre as aventuras de dois indianos muçulmanos. Na história, eles sobreviveram a um atentado à bomba, cometido por separatistas sikh, em um avião.
Já na, na Inglaterra, um dos personagens, Saladim Chamcha, desenvolve chifres, cascos e um rabo. Já o outro, Gibreel Farishta, cria um halo sobre a cabeça. Ao longo da história, o personagem sonha em conhecer o profeta Mahound. Este nome é um antigo termo pejorativo para se referir ao profeta Maomé.
Devido a isso, em 14 de Fevereiro de 1989, o Aiatolá Ruhollah Khomeini, líder do Irã, declarou sua ordem de execução. Declarou “Os Versos Satânicos” como “blasfémia contra o Islã”. Além disso, Khomeini condenou Rushdie pelo crime de “apostasia”.
Apesar de em 1988 Teerã ter declarado que não aplicaria a pena de morte a Rushdie, o sucessor do aiatolá Khomeini reafirmou, em 2005, sua condenação.
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